O Objecto
Setembro 2, 2006 at 11:28 pm 4 comentários
Há que dizer-se das coisas
o somenos que elas são.
Se for um copo é um copo
se for um cão é um cão.
Mas quando o copo se parte
e quando o cão faz ão ão?
Então o copo é um caco
e um cão não passa dum cão.
Quatro cacos são um copo
quatro latidos um cão.
Mas se forem de vidraça
e logo foram janela?
Mas se forem de pirraça
e logo forem cadela?
E se o copo for rachado?
E se o cão não tiver dono?
Não é um copo é um gato
não é um cão é um chato
que nos interrompe o sono.
E se o chato não for chato
e apenas cão sem coleira?
E se o copo for de sopa?
Não é um copo é um prato
não é um cão é literato
que anda sem eira nem beira
e não ganha para a roupa.
E se o prato for de merda
e o literato de esquerda?
Parte-se o prato que é caco
mata-se o vate que é cão
e escreveremos então
parte prato sape gato
vai-te vate foge cão
Assim se chamam as coisas
pelos nomes que elas são.
Ary dos Santos
Entry filed under: Ary dos Santos, Poemas do Mundo.
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1. Ruy de Noronha Ozorio | Outubro 22, 2006 às 2:12 pm
um poema genial do mais genial dos poetas…
2. Pedro Rui | Fevereiro 13, 2008 às 6:38 pm
Mais um magnífico poema do prematuramente desaparecido Ary
3. Nelson Camacho D'Magoito | Junho 17, 2008 às 6:54 pm
Parabens ao autor deste blogue por lembrar os poetas portugueses, principalmente José Carlos Ary dos Santos que en vida fêz o favor de ser meu amigo. Zé Carlos foi um Poeta do Povo e digno de ser lembrado. Não tenho um blogue dedicado aos poetas de volta e meia, lembro nos meus escrito o Zé Carlos. Mais uma vez obrigado pelo seu trabalho. Nelson Camacho
4. Duarte Calixto | Fevereiro 26, 2010 às 2:51 pm
Este poema está muito bem escrito , pois tem na sua grande parte descrito a realidade ….. Boa continuação neste estilo de poemas….