O Mostrengo

Setembro 30, 2006 at 10:27 pm 10 comentários

O mostrengo que está no fim do mar
Na noite de breu ergueu-se a voar;
A roda da nau voou três vezes,
Voou três vezes a chiar,
E disse: «Quem é que ousou entrar
Nas minhas cavernas que não desvendo,
Meus tectos negros do fim do mundo?»
E o homem do leme disse, tremendo:
«El-Rei D. João Segundo!»

«De quem são as velas onde me roço?
De quem as quilhas que vejo e ouço?»
Disse o mostrengo, e rodou três vezes,
Três vezes rodou imundo e grosso.
«Quem vem poder o que só eu posso,
Que moro onde nunca ninguém me visse
E escorro os medos do mar sem fundo?»
E o homem do leme tremeu, e disse:
«El-Rei D. João Segundo!»

Três vezes do leme as mãos ergueu,
Três vezes ao leme as reprendeu,
E disse no fim de tremer três vezes:
«Aqui ao leme sou mais do que eu:
Sou um povo que quer o mar que é teu;
E mais que o mostrengo, que me a alma teme
E roda nas trevas do fim do mundo,
Manda a vontade, que me ata ao leme,
De El-Rei D. João Segundo!»

Fernando Pessoa, Mensagem, 1934

Entry filed under: Fernando Pessoa.

Confiança Poema

10 comentários Add your own

  • 1. Bearita  |  Outubro 22, 2012 às 7:42 pm

    gostei mto deste poema 🙂

    Responder
  • 2. Bearita  |  Outubro 22, 2012 às 7:42 pm

    muito interessante 😀

    Responder
  • 3. reinaldo manuel pereira  |  Janeiro 6, 2013 às 10:20 pm

    No grupo JOGRAIS da EICFA Beira -Moçambique, declamei imensas vezes este belo poema.

    Responder
  • 4. n.campbell  |  Abril 25, 2013 às 2:25 pm

    É um poema que nos orgulha a Pátria que temos e exige-nos a responsabilidade de a honrarmos……bé

    Responder
  • 5. joana vieira  |  Setembro 12, 2013 às 9:57 am

    adoro este poema. uma colega recitou na escola mas eu recitu-o muitas vezes

    Responder
    • 6. Luís Leite Velho  |  Março 26, 2014 às 11:14 pm

      “Recitu-o”??

      Responder
  • 7. Baka Baka  |  Janeiro 7, 2014 às 12:36 pm

    baka

    Responder
  • 8. Lino Pinto Monteiro  |  Julho 9, 2014 às 1:31 pm

    Vale a pena conhecer toda a obra deste grande poeta da língua portuguesa

    Responder
  • 10. beto  |  Fevereiro 9, 2022 às 10:18 am

    fixe

    Responder

Deixe um comentário

Trackback this post  |  Subscribe to the comments via RSS Feed



Folhetim Cultural e artístico de Lisboa, Divulgação Cultural
Facebook

Poemas do mundo

Poemas do meu Mundo que ardem vivos em meu olhar que no coração escavam bem fundo e que não o deixam pulsar...

  • 1.329.523 visitas