Saudades

Janeiro 30, 2007 at 4:09 pm 1 comentário

Leva este ramo, Pepita,
de saudades portuguesas;
é flor nossa, e tão bonita
não na há outras devesas.

Seu perfume não seduz
não tem variado matiz,
vive à sombra, foge à luz,
as glórias d’amor não diz;

mas na modesta beleza
de sua melodia
é tão suave tristeza,
inspira tal simpatia!…

E tem um dote esta flor
que de outra igual não se diz:
não perde viço ou frescor
quando a tiram da raiz.

Antes mais e mais floresce
com tudo o que as outras mata;
até às vezes mais cresce
na terra que é mais ingrata.

Só tem um cruel senão,
que te não devo esconder:
plantada no coração,
toda outra flor faz morrer.

E, se o quebra e despedaça
com as raízes mofinas,
mais ela tem brilho e graça,
é como a flor das ruínas.

Não, Pepita, não ta dou…
Fiz mal em dar-te essa flor,
que eu sei o que me custou
tratá-la com tanto amor.

Almeida Garrett

Entry filed under: Almeida Garret.

Poema da Auto-estrada Bicicleta de Recados

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  • 1. catarina  |  Janeiro 18, 2010 às 8:09 pm

    gosto muito dos seus poemas
    e das suas obras

    Responder

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