Os putos

Dezembro 8, 2006 at 10:01 pm Deixe um comentário

Uma bola de pano, num charco
Um sorriso traquina, um chuto
Na ladeira a correr, um arco
O céu no olhar, dum puto.

Uma fisga que atira a esperança
Um pardal de calções, astuto
E a força de ser criança
Contra a força dum chui, que é bruto.

Parecem bandos de pardais à solta
Os putos, os putos
São como índios, capitães da malta
Os putos, os putos
Mas quando a tarde cai
Vai-se a revolta
Sentam-se ao colo do pai
É a ternura que volta
E ouvem-no a falar do homem novo
São os putos deste povo
A aprenderem a ser homens.

As caricas brilhando na mão
A vontade que salta ao eixo
Um puto que diz que não
Se a porrada vier não deixo

Um berlinde abafado na escola
Um pião na algibeira sem cor
Um puto que pede esmola
Porque a fome lhe abafa a dor.

Ary dos Santos

Entry filed under: Ary dos Santos.

Poeta castrado, não! Amigo

Deixe um comentário

Trackback this post  |  Subscribe to the comments via RSS Feed



Folhetim Cultural e artístico de Lisboa, Divulgação Cultural
Facebook

Poemas do mundo

Poemas do meu Mundo que ardem vivos em meu olhar que no coração escavam bem fundo e que não o deixam pulsar...

  • 1.329.459 visitas